Thursday, October 19, 2006

Trancada

E então aconteceu o inevitável
Eu me parti em duas
E isso era apenas o começo

Eu vivia muitas vidas numa só
Vidas sobrepostas cheirando a mofo
E aspirando o novo

Eu me inventava a todo momento
E minha platéia fiel
A tudo estranhava

Elogios que não traziam nada de novo
Críticas que não me faziam sair do lugar
Eu impermeável ao que vinha de fora

Encontrei um lugar dentro de mim
Em que consigo fingir pra mim mesma
Essa mesma que não crê nem fala
Apenas se esconde
Vagando pelos vãos das outras
Que saem voando como borboletas cegas
A cada faceta dessa personalidade obscura
Sob o manto da noite

Protegida de todo o mal
Protegida de todo o bem

Não é na rua
É na casa
Não é no fora
É no dentro
Não é nascer
É estar no útero pra sempre quente e macio

Trancada a sete chaves
Não estou nem pra mim mesma
Me perdi dentro de mim
Não posso sair
Apenas agendar visitas

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