Friday, November 23, 2007

expurgados do paraíso

A quem hei de entregar minhas tristezas?
Num confessionário isento de olhares
posso lamuriar-me num muro de lamentações.

A quem hei de entregar minha doce dor
salgada a lágrimas que escorrem fugidias
enquanto meu rosto se contorce em sofrimento?

A quem hei de entregar pelo meu corpo
as mais reais fantasias
que transformam desejo em prazer?

- É fogo e fuga
mas não me aquieto! -

teu corpo relutante, teu cheiro de carne crua
não vale o sangue, as implosões de dentro do meu ventre

quando insistes em ficar em pé
te miro aqui de baixo onde me enterro

as tuas alturas me tonteiam
voas tão alto que as minhas vertigens se esvaem

a tua violência calculada
empurras me teu corpo como quem se traga

com essa fumaça cinza e tóxica
tentas violar meu corpo
com ele e por ele te entrego a mim

com tuas mentiras verdades forjadas
jamais vais alcançar a perfeição

preso àquilo que te liberta
e à maldade fria como a tua lâmina assassina

e fingindo, se esconedendo e fugindo
veste-te e calça-te e vai-te embora daqui

é tempo de tempestades
mas do teu alto céu ignoras a chuva
caminhas pisando as nuvens
com teu solado de borracha

aguardarei a tua queda em silêncio

mumifico meu corpo, meus desejos
imobilizo meu ser, para deixar-te
eu me faria sombra para que fosses a figura
mas não conseguiste tocar o que há de pior em mim.