Monday, October 30, 2006

cegos voluntários

Nunca imaginei que em meio a tanta desilusão
houvesse espaço para essa alegria

enquanto eu mirava o passado
o futuro me puxava para frente
trazendo realizações

qualquer dia
pode ser feito de tempo
um tempo que não consegue saber se foi, se é ou vai ser

fora a poesia
não tenho nada
apenas um olhar infértil sobre a estrada reta
quando esqueço de ser
ler, pensar, sentir, expressar

parar no tempo sendo nada
faz das misérias apenas detalhes vãos da paisagem

e os amores distantes de mim
parecem apenas espectros
como ter certeza de que era eu ali ao seu lado na fotografia?
um amor de ópio e apagamento
não poderia durar tanto tempo

antes pular do barco
do que ficar até o naufrágio

então entrego minha existência
à contemplação do mistério

no meu corpo escrevo essa história
poemas em minhas costas
que eu não posso ler

e as minhas dúvidas ecoam pelo ar
encontrando outras mentes
que também de asas quebradas
se esforçam em cantar para o mundo

mas o cântico é uma bondade que machuca
uma tristeza que anima

e as cores esperam por uma outra luz
para produzerem diferentes nuances
na retina dos cegos voluntários
que fecham os olhos enquanto
a vida explode em cores
numa aurora boreal

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