Thursday, December 28, 2006

Sem norte

Vaguei noites vazias em selvas escuras
Na mão a minha bússola: você
Meu corpo cansado, moído, quebrado
Aturava os castigos do caminho
Sabendo esperar você

No seu jeito de falar
Ouço o tilintar do cristal quebrando

Meu desejo era maior
Segui ao seu encontro

E a saudade e a solidão da vida minha
Me fez de novo sua até suar

De um salto, um susto, um cisco nos seus olhos
Senti que algo estava por findar

Com os pequenos cacos que sobraram
Talhou a minha pele de lamúrias

Do meu silêncio fez-se a escuridão
Tomou a minha alma por luxúria

04/11/2006

Sunday, December 24, 2006

sóbrios

eu estive sóbria por alguns dias
e o que posso dizer sobre isso?
que senti falta do conhaque puro baixando pela goela?
que senti falta do som alto saindo pela goela?
a plenos pulmões
um desamor completo

a chatice do dia a dia me desespera
eu preferia estar dopada
eu preferia estar adoidada
eu preferia que você tivesse gozado por toda a casa
como fez um dia

seus "eu te amo"
vem acompanhados de atitudes de fuga
não se entrega
e eu com a maior paciência do mundo

me ligue quando estiver sóbrio de todo esse movimento de fuga
nossa vida não é uma ópera

invenções

Você não existe.
Só existe quando está perto de mim.
Eu invento você, seus passos, suas falas.

Todos entram aqui e saem com respostas.
E quem me dá as respostas?
Talvez eu não esteja fazendo as perguntas certas.

Você tenta me indicar caminhos
Mas custo a acreditar na viabilidade de segui-los.

Um homem que inventa uma mulher.
Apenas o sexo foi real.
Todo o resto foi invenção das falas.
Apenas o gozo foi espontâneo.
Todo o resto foi pré-programado.


E assim não saio daqui para a rua.
As minhas necessidades são atendidas
como serviço de entrega.

Amor venha...
e o amor vem.

Amor fique...
e o amor fica.

As idéias desconexas podem até fazer sentido
vez ou outra.

Este é um espaço mágico de criação.
eu estou inventando esse amor.
sempre a cabeça
nunca o coração

cabeça e sexo
e eu crio o amor.

tudo para nós
é sempre num lugar lá fora.
é vento, verde, sol
mas a gente não sai daqui

porque não sabemos inventar verdades
você é apenas uma pessoa
que me permite falar na primeira pessoa do plural.
Você é a minha primeira pessoa do plural.

ninguém entende o que escrevo, o que penso, o que invento
porque sempre estou criando coisas novas

e posso até inventar que sei fazer pão
e posso até inventar que tenho um filho

e posso até inventar uma nova cara
um novo cabelo
um novo elo

eu invento tudo
crio tudo

e me sinto sozinha depois de tudo.




eu sei que vc escreve a mão
e eu inventei que não te amo
inventei que não te quero



eu inventei a doida
e todos acreditam

eu não quero mais inventar nada
é isso mesmo
tenho que escutar mais
ficar mais tempo muda

vou ficar imóvel
esperando você me tocar

e não vou dizer mais nada sobre o que sinto
vou esperar pra sentir quando você estiver aqui

super-heróis

amanheceu às 3h da tarde

antes disso você me via dormir
velava meu sono
é disso que preciso
de você zelando por mim
seu carinho
entrar no seu mundo de mansinho
colocando a imensidão no bolso da bermuda
e porta adentro nos despindo de tudo
apenas os sonhos
apenas os brilhos
dos olhos
dos planetas a nos alimentar
das fagulhas da nossa fogueira santa
por que me queima?
quer me purificar?

mal sabe você.. que o que você me faz
é me fazer voltar
voltar a ser o que eu era
antes de estragarem toda minha pureza
antes de eu renunciar à minha beleza
antes de eu matar todas minhas certezas

eu serei
o que sou
e sempre fui

pra você
se você quiser

se tentar entender minhas palavras
vai se perder no labirinto

mas se tocar minhas verdades com a palma da mão
vai sentir tudo como o que realmente são

você está abrindo uma gestalt em que o essencial salta aos olhos
toda essa gosma em volta
é por onde vou nadar
até chegar a você

eu ainda não desisti
isso é bobagem
só estou aqui pra receber
é a sua hora de quebrar a casca
de sair da barriga da abelha

é a sua hora de correr pra mim
com a velocidade da luz
pra explodir no meu corpo
com o líquido proibido

meu desejo por você está aqui

não quero nem dizer que te amo
meu 'eu te amo' hoje é carinho, um afago no ego

o dia que eu disser eu te amo
pra confirmar o que sou no que você é
aí sim
vou dizer com lágrimas nos olhos
eu desde a primeira noite
me joguei em você

e não me arrependo
mas o dia a dia está me matando
espero que me entenda

preciso de Baco
pra que meu amor me tome

e se derrame das minhas pernas nas tuas
escorrendo pra você sentir

eu quero sentir teu corpo
quente
pulsando
seu coração batendo

você deixou desejo

eu apenas rio das suas restrições
acho que já percebeu que pra mim elas são nada

apenas você não conseguiu deixá-las pra fora daqui

quando vai perceber que aqui é o lugar de deixar as máscaras?
de fazer sumir as fantasias de super-heróis?

aqui é o lugar pra ser o super-herói
não a roupa
e sim o ser

Wednesday, December 13, 2006

meus três últimos cigarros




meus três últimos cigarros

não posso mentir que guardei pro final
os 3 últimos cigarros ficaram guardados

no fundo do armário
na prateleira de trás

eu tentei escondê-los
eu tentei não fumá-los agora

mas precisei deles

o primeiro fumei por desespero

por solidão

por não saber o que fazer

e coloquei sua bituca em pé pra que apagasse sozinho longe de mim

o segundo fumei por impulso

por conforto,

pra tentar fazer durar,

esticar o tempo que fica flácido

e nem dá mais vontade de fumar

o terceiro não fumei ainda

porque o segundo está apagando entre os meus dedos enquanto escrevo

o segundo se apagou

que alívio não precisar sentir coisa chata

pro terceiro eu quero uma lágrima

que está seca por causa da fumaça imaginária que está saindo de mim
pro terceiro só teve um suspiro
uma vontade de não queimá-lo

pro terceiro um numero mágico
uma forma perfeita
três ângulos

pro terceiro
não..
pra mim

o terceiro é pra mim
só pra mim
é o último o recente o reticente

o terceiro vai me trazer
vou te acender

te acendi dentro de mim
o terceiro foi aquele que a tereza deu a mão

o terceiro foi aquele que a certeza deu a mão

pra você eu dou a minha mão
mas você não quer

e a lágrima veio
molhou meus olhos
mas não saiu

você não sai de mim
eu estremeço
eu te mereço

te suguei o mais forte que pude
e minha traquéia doeu

eu sinto muito
eu preciso muito
te pedir perdão

o que foi que eu estraguei dentro de você?
quero guardar as suas cinzas na caixinha
porque sou fênix
e só posso renascer das tuas cinzas

cigarro eterno de uma mente de lembranças
você ilumina
e até o sol pousou na minha janela quando você se foi
eu vou procurar você atrás das cortinas
não brinque assim de se esconder
eu quero te achar bem aqui
e se você não estiver
eu vou arrancar essas cortinas
nessa sina cega de surtar sem segredos

você molhou a minha boca
eu

eu
eu preciso eu quero
te espero se você precisa disso

eu estou me matando pra te proteger
eu estou chorando pra não te esquecer

quem é que vai me curar de você?
não deixe tudo pra eu fazer
não insista pra eu crescer

não peça pra eu trocar de roupa
me aceite do jeito que eu sou
eu não quero te mudar
só quero que você me deixe entrar

sem essa de deixar a porta aberta
eu quero que você carregue a chave

me despertaram de você, meu sonho lúcido
porque eu tenho essas coisas pra fazer

e estralei meu dedo sem querer
quando te amassei no cinzeiro

porque te apaguei
mas você tá aqui

e me mandaram uma mensagem
SAVE
me salva e me poupa
sempre um pouco
pra ter sempre mais

os seres e os sentimentos

os seres sem sentimento
e os seres que sentem demais
sentimentos variados se esvaziam
de um sentir sempre a mesma coisa invariável

os seres sem sentimento
e os seres que sentem demais
são seres de catavento
rodando pra dar cor ao movimento
do ar que pela força vão sendo usurpados

toda vez que eu amo alguém
deixo de amar um pedaço de mim
que era meu e eu não sabia
e não sabia que doía

não
eu não quero me repartir
eu prefiro preferir
escolher falsamente
o que vai o que vem
o que fica

e é assim que o ventre explode
com a maior sutileza do mundo
tudo o que eu não quis deixar sair
arrebenta as barreiras do que sou
e me faz estilhaços de mim
num espelho sem imagem em que me enxergo
inteira
intensa

é difícil encarar os avessos
é difícil descobrir-se ao contrário
é difícil ler palavras no espelho

ainda mais quando escritas com vermelho

profeta

eu nao sou profeta
porque não quero enxergar as imagens do futuro

eu simplesmente profiro palavras que ecoam o futuro no coração das pessoas

beijos e partos

chegou o momento
em que distribuo beijos
que se esforçam pra nascer
como em trabalhos de parto

dói em mim ver a vida que nasce da minha boca
sofro e choro com a tamanha brutalidade
com que sonhos entram e deslizam pela minha língua
de como esses sonhos de outros
precisam da minha saliva pra se umedecerem

e a força que trago nos dentes
faz do risco um rastro
de sangues e suores
manchando os lençóis

manchando o branco

e é apenas o choro primeiro da vida
aquele susto quando o ar invade os pulmões

e é a partir daquele corte com a casa que me protegia
quente e úmida como um beijo de corpo na alma
que eu sou obrigada a abrir os olhos
e a plenos pulmões
respirar ar puro

Thursday, December 07, 2006

Sem se adaptar

E eu precisava sair
E eu precisava ficar
E a gente se despede
na porta, na rua

Eu te amo
Me perdoa
Me entenda sem me entender
Me aceite
Não me peça pra me adaptar

Nosso egoísmo
Somos dois tiranos mimados
Tentando discordar

Mas a gente só concorda
Só acorda
Um do lado do outro

Não tente se adaptar
Tente apenas esquecer
o que te faz precisar pensar
o que te faz precisar escolher

Eu sinto tudo assim
sem explicação

Um prazer
Uma incerteza certeira
Nos acordes e nos versos de uma canção