Wednesday, December 13, 2006

os seres e os sentimentos

os seres sem sentimento
e os seres que sentem demais
sentimentos variados se esvaziam
de um sentir sempre a mesma coisa invariável

os seres sem sentimento
e os seres que sentem demais
são seres de catavento
rodando pra dar cor ao movimento
do ar que pela força vão sendo usurpados

toda vez que eu amo alguém
deixo de amar um pedaço de mim
que era meu e eu não sabia
e não sabia que doía

não
eu não quero me repartir
eu prefiro preferir
escolher falsamente
o que vai o que vem
o que fica

e é assim que o ventre explode
com a maior sutileza do mundo
tudo o que eu não quis deixar sair
arrebenta as barreiras do que sou
e me faz estilhaços de mim
num espelho sem imagem em que me enxergo
inteira
intensa

é difícil encarar os avessos
é difícil descobrir-se ao contrário
é difícil ler palavras no espelho

ainda mais quando escritas com vermelho

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