Monday, April 16, 2007

abóbora selvagem

tudo é verticalmente triste
ao som de bandolins
ou violinos assassinos

não posso ouvir violas
tudo que é simples me violenta
antes ser sublime do que simples
antes ser incógnita do que escrever um manual de instruções

um sarcasmo
orgamos de conversa
não são janelas da alma abertas

eu pisei no lodo
e chicoteei o espaço
agredindo por não me deixar agredir

de comum acordo
acordo às 7h30 da manhã

mas não há a palavra 'doce'
apenas uma palavra 'não' que séria e culpada
se ensaia pra sair

e nessa valsa triste
indo e vindo deste mundo e outros

enfrentando o mundo
eu assombro e sofro
porque não é possível a todos me compreender

e sendo sempre mais do que se pode suportar
transbordando todos os copos
da incontida prisão da minha solitude

sucumbo novamente ao vício de fingir não estar só
afagando de leve algumas almas de janelas abertas

a única porta por onde entrei
se fecha em culpas e erros

eu que sempre me perdoei
não me delicio com seu sangue em minhas garras
seu sangue é doce e chora

e nunca corres pra mim para que eu te abrigue
te fechas e cultivas a tua solidão
me obrigando a enfrentar a minha, a suave prisão

mas quando vens, tomas o tempo em tuas mãos
e me ofereces tudo
e segurando o líquido do tempo em nossas mãos
vamos derramando as horas lentamente
e com gozo
em todas as coisas que amamos
imagens, palavras, cheiros e toques
trejeitos, desajeitos, gafes e tombos

até a carruagem virar abóbora

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