Monday, October 06, 2008

Secura

Seco as lágrimas e me encaro no espelho. Mas me vejo apenas doce e superficialmente. Uma carinha de boneca. Uma carinha inchada de boneca. Tento organizar a casa, as finanças, as roupas, os livros. Mas pra me compreender preciso explodir em cacos de espelho que não mostrem essa face doce. É preciso mil cacos pra me enxergar.
Lembranças sempre me moveram. Tristezas sempre me comoveram. Mas o cotidiano, mudam-se os anos, e fica sempre igual.
Assim é se revisitar. Quando os espelhos não mais refletem o que você pensa ser. Quando você parece ser algo que não sabe bem o que é. Quando não mais se é. A única coisa que resta é revisitar-se. Talvez de bem perto, talvez de bem dentro. Essa maneira de lidar com a dor é uma resiliência do que acontece sem que eu queira. E quem sou eu pra querer que algo me aconteça? Preciso conversar mais com os deuses...
Quando me construo e me teço nesses textos me imaterializo desse respirar, dormir, acordar e me intuo entrando em contato com o inexplicável, com aquela sensação que sempre me acompanhou. A sensação de estar num palco pouco iluminado encenando a minha vida para que ela seja condizente com o que sei de mim.
E o que sei de mim? Nem sempre eu me reencontro. Esse choro latente que me dá esperança de alguém me ouve, me sente, me toca e é por mim tocado. À revelia da lógica dos homens. Esqueci de me representar. Esqueci de mostrar quem sou. Talvez eu estivesse descansando. Mas agora, talvez esteja me libertando até mesmo do que sempre fui pra ser o que pretendo ser.

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